Archive for the ‘Capitalismo’ Category

Microempresa poderá parcelar débitos fiscais

A Receita Federal ofereceu uma nova possibilidade às pequenas e microempresas que estão fora do Supersimples de ingressar no sistema tributário – que unifica em um único recolhimento os principais impostos federais, o ICMS e o ISS. O órgão regulamentou, por meio de uma instrução normativa publicada no dia 31 de dezembro, a possibilidade de parcelamento em até cem vezes para os débitos fiscais referentes a fatos ocorridos até 30 de junho de 2008. A novidade, no entanto, só se aplica às empresas que pretendem entrar no Supersimples pela primeira vez, excluindo-se, desta forma, aquelas que estão na iminência de sair do sistema por inadimplência. O parcelamento já havia sido anunciado na semana passada, em uma resolução da Receita.

Desde que entrou em vigor, em julho de 2007, o Supersimples impõe como condição de permanência no sistema a manutenção em dia do pagamento dos tributos. Na época em que saiu a lei, foi permitido um parcelamento em até 120 vezes. A nova instrução normativa representa uma segunda chance para as empresas que almejam entrar no Supersimples e não o fizeram em função de débitos adquiridos a partir do segundo semestre de 2007. De acordo com Douglas Rogério Campanini, da ASPR Auditoria e Consultoria, muitas empresas de pequeno porte não têm condições de liquidar os débitos pelas regras “tradicionais” de parcelamento da Receita, em 60 meses. “Por vezes esse tipo de parcelamento inviabiliza o próprio negócio”, diz Campanini. Na opinião dele, a medida também é benéfica para a Receita Federal, pois garantirá uma verba a mais em tempos de crise econômica.

Por outro lado, a principal crítica em relação a nova possibilidade de parcelamento é ela não abarcar as as empresas que já estão no Supersimples e em vias de serem excluídas do sistema. Segundo o advogado Marcos Tavares Leite, sócio do Faria de Sant´Anna e Tavares Leite Advogados, cerca de 400 mil empresas estão nessa situação – a maioria pela inadimplência e o restante em função de cadastro ou por impossibilidades societárias. Segundo ele, o reparcelamento era um anseio dos micro e pequenos empresários. “Essas empresas continuam sob o risco de voltarem à informalidade e ainda há as que pensam em pedir o desenquadramento voluntariamente, pois o Simples não se mostrou vantajoso”, diz Leite.

Outro alerta de advogados para as empresas que optarem pelo parcelamento é que tenham cautela para manter a regularidade dos débitos vincendos, pois uma nova inadimplência acarretará na exclusão do sistema. A Receita Federal informou que o parcelamento não foi oferecido aos inadimplentes que já estão no Supersimples porque seria um tratamento desigual perante aquelas empresas que ingressam agora no sistema.

Fonte: Valor Online

Depois da marolinha…

O site Business Pundit fez uma bem humorada lista dos novos logos das empresas atingidas pela crise que assola o mercado mundial. Veja outros clicando aqui.

Reebok é a nova fornecedora do Cruzeiro

 

Antônio Claret Nametala comemora crescimento da linha de produtos com a chegada da Reebok ao Cruzeiro

Antônio Claret Nametala comemora crescimento da linha de produtos com a chegada da Reebok ao Cruzeiro

  
 A empresa inglesa Reebok é a nova fornecedora de material esportivo do Cruzeiro. O contrato foi assinado na tarde desta quarta-feira, em Belo Horizonte, e terá duração de três anos.

A Reebok substituirá a alemã Puma a partir de 1º de janeiro e pagará ao Cruzeiro cerca de R$ 8 milhões por ano, mais que o dobro do acordo anterior, sendo a metade em material esportivo para o elenco profissional e as categorias de base.

O diretor de marketing Antônio Claret Nametala se esquivou ao confirmar os valores, mas mostrou-se realizado com a nova parceria. “Posso dizer que é muito melhor, um pouco mais que o dobro do que tínhamos com a Puma. Vamos sair de 32 mil itens para 60 mil itens na nossa linha. Foi muito bom”.

O novo uniforme deve ser lançado na primeira quinzena de janeiro. A estréia oficial será no Torneio de Verão no Uruguai, nos dias 17 e 21. O Cruzeiro enfrentará o Atlético na primeira data e, em seguida, disputará o título ou o terceiro lugar contra Nacional ou Peñarol do Uruguai.

O Cruzeiro será o terceiro clube brasileiro a se vestir de Reebok em 2009. A fornecedora deixou o Vasco da Gama e manteve as parcerias com Internacional e São Paulo. “Espero que os títulos desses dois clubes venham para o Cruzeiro”, brincou Claret.

A Reebok poderá abrir novas lojas oficiais do Cruzeiro em Belo Horizonte e no interior de Minas. A empresa também investirá na exposição da marca do clube no Brasil e no exterior.

Antônio Claret Nametala confirmou que o Cruzeiro também negociava com a alemã Adidas. “Faltava uma autorização da Alemanha, essa autorização não chegou. Depois foi feita uma proposta alternativa, daqui do Brasil, mas não era o que a gente gostaria. Como o contrato com a Reebok já era muito superior ao da Puma, o presidente Zezé me autorizou a bater o martelo”.

Fonte: Portal Uai / Foto: Arquivo Estado de Minas

A crise e os direitos trabalhistas

A sugestão do presidente da Vale, Roger Agnelli – de flexibilização temporária das leis trabalhistas, como forma de evitar mais demissões em massa -, publicada pelo Estado na edição de domingo, trouxe à tona uma discussão que tem ganhado corpo no governo e entre grandes empresas e sindicatos.

Os empresários já pressionam o governo por mudanças. As propostas foram apresentadas na última quinta-feira, em reunião com o presidente Lula. “É melhor reduzir temporariamente a jornada e os salários do que perder o emprego”, afirma Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “O governo dialoga tanto com empresários quanto com os trabalhadores e, diante dessa crise, tem papel fundamental.”
Lula ouviu, mas nada disse aos empresários. Um fonte do governo, no entanto, informou que ele está disposto a intermediar a discussão com ministros, empresários e centrais sindicais. A reunião, ainda sem data marcada, dependerá da eficácia das medidas para ajudar as empresas a enfrentar a crise mundial. Na avaliação do presidente, trata-se de proposta complexa, que precisa ser analisada com “segurança jurídica”, segundo interlocutores do governo. Uma das preocupações é a possibilidade de demissões em massa com a volta das férias coletivas dos trabalhadores. Técnicos dos ministérios da Fazenda, da Previdência e do Trabalho já estudam a questão, que pode significar renúncia fiscal e desoneração.

Fonte: Estadão

Vale lança obra de novo terminal em Pirapora

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Luiz Ribeiro para o Estado de Minas 

Enquanto anuncia redução do quadro de funcionários nas unidade de mineração, por conta da crise mundial, em Pirapora, Norte de Minas, a Vale cria expectativas de geração de empregos com a implantação de um terminal intermodal de cargas, cuja pedra fundamental foi lançada quinta-feira na cidade. O terminal está inserido no Projeto Noroeste, um ambicioso corredor ferroviário ligando Pirapora ao Porto de Vitória (ES), visando o escoamento de grãos do Noroeste mineiro para a exportação. A Vale, juntamente com sua controlada, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), vai investir R$ 300 milhões no empreendimento.

Ao participar de lançamento da pedra fundamental, o diretor da Ferrovia Centro-Atlântica, Marcelo Spinelli, reafirmou o compromisso da empresa de manter o cronograma de investimentos na cidade. Lembrou que, em outros municípios, a Vale está sendo obrigada a fazer “ajustes”, mas que os investimentos em Pirapora estão garantidos, a fim de que o corredor comece a transportar grãos em fevereiro de 2009. De acordo com a FCA, a previsão é de que o volume de mercadorias transportadas no trecho aumente paulatinamente e alcance cerca de 2,6 milhões de toneladas anuais movimentadas em 2013.

Os cereais e outros produtos agrícolas produzidos no Noroeste de Minas serão transportados até Pirapora por rodovia, em caminhões e carretas. Para isso, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Raphael Guimarães Andrade, que também participou do evento, disse que estão assegurados os investimentos pelo governo de Minas Gerais na melhoria das estradas da região. “O projeto de escoamento de grãos pode ser visto como marco na retomada dos investimentos de grande porte na nossa malha ferroviária”, afirmou Andrade. Ele disse que a implantação do empreendimento não deve sofrer nenhum atraso em função da crise mundial. “É sabido que a demanda mundial por grãos é crescente e seu atendimento não pode ser adiado, sob pena de graves conseqüências mundo afora”, disse.

Para implantar o projeto, a FCA está recuperando os 159 quilômetros do ramal ferroviário Pirapora/Corinto. A implantação do terminal já alterou a ocupação de mão-de-obra na região. “Com o início das obras, já foram gerados cerca de 300 empregos em nossa cidade. Mas nossa expectativa é de que, quando o terminal entrar em funcionamento, serão criados cerca de 2 mil empregos”, afirma o prefeito de Pirapora, Warmilon Fonseca Braga. “Com empreendimentos desse tipo, percebemos que, apesar da crise, Pirapora continua atraindo novos investimentos”, acrescenta o prefeito, que também aguarda um crescimento de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) do município.

O Terminal Intermodal de Pirapora (TIP) será construído em um terreno de quatro hectares, doado pela prefeitura, distante três quilômetros do Centro da cidade. A unidade terá dois silos de armazenagem, com capacidade estática de 3 mil toneladas cada; equipamentos para descarga de caminhões e para embarque nos vagões, um estacionamento para carretas com 18,5 mil metros quadrados, uma balança rodoviária e outra ferroviária. A previsão é de que movimente de 40 a 80 vagões por dia no seu primeiro ano de operação. O primeiro trem parte do terminal para Vitória já no início da safra de 2009.
 
Foto: Marcos Michelin/EM/D. A Press

Copom mantém taxa básica de juros em 13,75% ao ano, apesar da crise

copomPor Eduardo Cucolo, na Folha Online

O Copom (Comitê de Política Econômica do Banco Central) decidiu hoje manter a taxa básica de juros inalterada em 13,75% ao ano. Essa foi a última reunião do Copom neste ano. Agora, os diretores do BC só voltam a se reunir nos dias 20 e 21 de janeiro de 2009.

“Tendo a maioria dos membros do comitê discutido a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros já nesta reunião, em ambiente macroeconômico que continua cercado por grande incerteza, o Copom decidiu, por unanimidade, ainda manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés, neste momento”, afirmou em comunicado.

“O comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação com vistas a definir, tempestivamente, os próximos passos de sua estratégia de política monetária”, complementou.

Os efeitos da crise internacional de crédito no Brasil não foram suficientes para convencer o Banco Central a reduzir a taxa básica de juros. O BC, tampouco, decidiu atender ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros membros do governo, que queriam uma redução da Selic.

A decisão do BC já era esperada pela maioria dos analistas econômicos. No final de novembro, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, já havia dito que o BC não iria se esquecer do combate à inflação, apesar da crise que ameaça o crescimento do país.

Neste ano, o BC realizou oito reuniões. Em janeiro e março, manteve a Selic em 11,25% ao ano. Em abril começou a subir os juros. Foram quatro aumentos, que fizeram a Selic chegar a 13,75% ao ano em setembro. Com a piora na crise, o BC optou por manter a taxa inalterada nas duas últimas reuniões de 2008.

Um dos fatores que influenciaram a decisão do BC foi a divulgação do crescimento de quase 7% no PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país) do terceiro trimestre. Com esse resultado, mesmo que o país não cresça nada no final deste ano, já está garantida uma expansão de 4,8% para 2008, próxima da previsão oficial do governo de até 5,5%.

Ontem, após a divulgação do PIB, Meirelles afirmou que os números do IBGE mostram que a desaceleração econômica do Brasil será mais curta e de menor intensidade que em outros países.

Durante uma audiência de prestação de contas ao Congresso em novembro, Meirelles chegou a ser questionado sobre o fato de o Brasil estar mantendo a taxa de juros elevada em um momento em que as taxas caem nos países desenvolvidos.

Na época, o presidente do BC disse que o corte dos juros era um remédio para a crise que estava sendo adotado apenas nas economias ameaçadas pela recessão econômica, como EUA e União Européia. No Brasil, segundo Meirelles, não havia esse risco.

Nem mesmo a queda da inflação convenceu o BC a cortar os juros. O índice oficial medido pelo IBGE, o IPCA, recuou em novembro e deve fechar o ano dentro do limite da meta do governo, que é de até 6,5% (meta de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais). Também caíram as previsões do mercado financeiro para 2009, que espera uma inflação de 5,20%. O BC quer, no entanto, trazer a inflação para o centro da meta (4,5%).

2009
Segundo a pesquisa semanal feita pelo BC com o mercado financeiro, os economistas prevêem agora a manutenção dos juros no patamar atual até setembro de 2009. A taxa só voltaria a cair nas duas últimas reuniões do Copom no próximo ano, para 13,50% ao ano em outubro e 13,25% ao ano em dezembro.

Arte de falsário

Muito bom o texto da Eliana Cardoso. Compara todo o problema da bolha financeira americana a um falsário e os idiotas que querem cair no golpe. Leiam e apreciem.

O subprime foi um gigantesco esquema de Ponzi – fraude em que, como na corrente da felicidade, ganha quem joga, até que a pirâmide invertida venha abaixo. Enquanto a bolha imobiliária americana cresceu, credores emitiram hipotecas ao deus-dará, bancos as empacotaram com emissão de títulos, que gestores de recursos compraram com dinheiro emprestado, contabilizando lucros não realizados. Fortunas se criaram e se perderam, mil vezes maiores que os US$ 50 milhões que Van Meegeren ganhou falsificando quadros de Vermeer e vendendo-os a museus na Holanda e a nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Frank Wynne conta essa história em Eu Fui Vermeer.

De Beny Parnes, estrategista-chefe do BBM Investimentos, recebi o livro e a recomendação de traçar paralelos entre os desvarios do mercado financeiro na última década e os do falsário holandês na metade do século 20.

O sucesso do falsário depende de dois elementos: avanço da tecnologia e desejo da vítima de se deixar enganar. O avanço técnico no caso de Meegeren foi a baquelita, primeiro plástico para fins comerciais, que lhe permitiu substituir o óleo vegetal como veículo na pintura. Com ela obteve o endurecimento da tinta, necessário para mantê-la inalterada em testes de autenticidade. No caso do esquema financeiro, a inovação tecnológica combinou derivativos com artimanhas de controle de risco, como a securitização que transformava em títulos AAA empréstimos hipotecários – cuja qualidade era tão ruim que até mesmo Alan Greenspan, depois do desastre consumado, se confessou em estado de choque.

Quanto ao segundo elemento necessário ao seu sucesso, Van Meegeren encontrou-o no desejo dos críticos de descobrir quadros de um período intermediário na obra de Vermeer. Apesar da pequena produção do pintor seiscentista, existe uma disparidade gritante de estilo e tema entre Diana e suas Companheiras (obra do artista jovem) e A Leiteira (o primeiro trabalho da maturidade). No vazio entre um e outro, os críticos imaginaram um Vermeer desaparecido, que uniria as duas fases. O falsário identificou o desejo dos críticos e o realizou.

“Falsificações são um retrato cambiante dos desejos humanos. Cada sociedade falsifica as coisas que mais cobiça”, argumenta Mark Jones em The Art of Deception. No começo do século 21 o desejo era o de uma vida incompatível com os ganhos da economia real. A ganância incitava a crença na ausência de riscos, na morte do ciclo de negócios e no céu como limite para as taxas de crescimento.

Beny Parnes observa: “Os agentes financeiros sabiam o que faziam. Ou quase todos. Com certeza não faltava consciência de seus próprios atos aos empacotadores de hipotecas e aos bancos que colocavam esses pacotes em suas carteiras de investimento. Os compradores dos ativos suspeitavam do que estava acontecendo. Mas o desejo de altos rendimentos gerava a crença em hipóteses bobas sobre risco e o incentivo para entrar no negócio e comprar o Vermeer de Meegeren.” Como dizia Maquiavel, “quem trapaceia sempre encontra quem se deixa trapacear, porque os homens cedem prontamente a desejos momentâneos”.

A diferença entre a experiência dos falsários de hoje e a de Meegeren está na seqüela da trapaça. Meegeren agiu como indivíduo isolado. Preso, e depois absolvido, causou prejuízos e decepção a museus e seus freqüentadores, mas não um desastre econômico. No século 21 a ação coletiva de milhares de investidores produziu uma bolha hipotecária que mudou a alocação de recursos e terminou em catástrofe para o globo.

Nos EUA os economistas esperam a pior recessão desde a década de 1950. A queda da bolsa indica que os investidores apostam numa recessão profunda e severa, ainda pior que a do início da década de 1980. Os gastos dos consumidores apresentaram queda pelo quarto mês consecutivo em outubro. O mercado imobiliário ainda não se estabilizou e os preços das casas são hoje 20% mais baixos do que no pico de 2007. Apenas em novembro de 2008 se perdeu mais de meio milhão de empregos.

Com más notícias se multiplicando a cada dia, como manter a calma? A boa nova é que, pelo menos, o momento mais assustador da crise financeira ficou para trás (embora seus custos recessivos estejam apenas começando). A taxa Libor, que um banco oferece a outro, caiu abaixo do nível de pânico a que chegou logo após a bancarrota do Lehman Brothers. Calcula-se que o valor necessário para resolver os problemas no mercado de CDS (swaps de crédito cujo montante é de US$ 55 trilhões) chegue a 1,5% dessa quantia, ou seja, menos de US$ 1 trilhão. É muito dinheiro. Mas o PIB americano de um mês é maior. Portanto, não é fatal.

No Brasil, duvide de quem lhe promete um PIB crescendo a 4% em 2009. Mas desconfie dos alarmistas também. Parte do pessimismo deriva do sentimento de perda produzido por prejuízos financeiros volumosos, lembrou Oswaldo Assis, sócio do Banco Pactual, em seminário na USP na semana passada. Vale lembrar que o mercado financeiro no Brasil apresenta características muito diferentes das do mercado americano: compulsório alto, crédito imobiliário pequeno, securitização e alavancagem baixas. As operações de balcão não registradas são pequenas. Não há mercado de CDS, as seguradoras são rentáveis. Em resposta à redução do nível de atividade o Banco Central pode cortar a Selic, mesmo que a inflação não fique no centro da meta.

Nos EUA, o Fed anunciou que o encontro de dezembro deve durar dois dias, em vez de um – preparando, talvez, novo plano para ressuscitar o crédito. Dentro de 40 dias os EUA darão posse ao novo presidente, que chega com um pacote fiscal de US$ 700 bilhões em investimentos para reanimar a economia. Torço pelo seu sucesso, pois a evolução desta crise deixou claro que o que acontece por lá repercute aqui.

Eliana Cardoso é professora titular da EESP-FGV
Site: www.elianacardoso.com

Brasil registra sua maior saída de dólares desde janeiro de 1999

dolar

O saldo da entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial) ficou negativo em US$ 7,159 bilhões, em novembro, o pior resultado desde janeiro de 1999 (US$ 8,587 bilhões de saldo negativo). A informação foi divulgada ontem pelo Banco Central. Em novembro de 2007, segundo o BC, o saldo foi positivo em US$ 5,281 bilhões. No acumulado do ano, houve mais entradas do que saídas, com resultado positivo de US$ 5,390. Mesmo assim, o valor foi bem menor do que o registrado em igual período de 2007: US$ 82,057 bilhões.

A maior contribuição para esses resultados negativos veio da conta financeira do fluxo cambial, que é o registro das entradas e saídas de recursos das Bolsas de Valores, investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações. Em momentos de oscilações do mercado financeiro, como o atual, essa conta costuma registrar resultados negativos.

Em novembro, o saldo negativo dessa conta ficou em US$ 10,298 bilhões, contra US$ 2,023 bilhões de resultado também negativo no mesmo mês de 2007. No ano, o saldo negativo é de US$ 42,630 bilhões, contra US$ 8,587 bilhões de saldo positivo registrado de janeiro a novembro de 2007.

O fluxo comercial também tem resultados da conta comercial, que inclui dados da balança comercial (exportações e importações), de adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACC) e pagamentos antecipados de exportação (PA), que são financiamentos destinados aos exportadores brasileiros. No fluxo comercial, houve redução do saldo, na comparação entre 2008 e 2007.

O saldo da conta comercial foi positivo em US$ 3,139 bilhões, em novembro, e de US$ 48,020 bilhões no acumulado do ano. No mesmo período do ano passado, esses resultados eram, respectivamente, de US$ 7,304 bilhões e US$ 73,470 bilhões.

As exportações no mês chegaram a US$ 13,492 bilhões e as importações, a 10,353 bilhões. No acumulado do ano, as vendas brasileiras ao exterior somaram US$ 176,580 bilhões e as importações ficaram em US$ 128,560 bilhões.

No mês, os contratos de ACC chegaram a US$ 3,683 bilhões, contra US$ 4,334 bilhões de novembro de 2007. No acumulado de 2008, esses contratos somam US$ 43,034 bilhões, contra US$ 42 382 bilhões de janeiro a novembro do ano passado.

No caso dos pagamentos antecipados de exportação, no mês de novembro o valor chegou a US$ 2,384 bilhões e no ano, a US$ 43 074 bilhões, sendo que em igual período de 2007 os valores foram respectivamente, US$ 4,393 bilhões e US$ 41,985 bilhões.

Comercial tem alta de 3,46%
O dólar comercial foi cotado a R$ 2,475 para venda, em um forte avanço de 3,46%, nas últimas operações de hoje. Trata-se da taxa mais alta desde junho de 2005. Nas casas de câmbio paulistas, o dólar turismo foi negociado a R$ 2,530, em um recuo de 0,78%.

“Não vi nenhuma notícia mais forte que tenha realmente afetado o mercado. A alta foi principalmente uma questão de fluxo. As saídas estão muito fortes”, comenta Vanderley Muniz, operador da corretora gaúcha Onnix.

Outro operador, que falou sob anonimato, relata que o mercado está volátil demais, sem que as intervenções do BC façam efeito para deter a onda especulativa com origem no mercado futuro. Operadores acusam uma forte saída de moeda nos últimos dias, principalmente por conta da habitual remessa de lucros e royalties por fundos e empresas estrangeiras.

Lá vem a crise…

crise

Para os otimistas de plantão as notícias ontem foram as piores. Nunca vi tanto prenúncio de desastre e mau agouro para a economia juntos. Pelo jeito lá a crise se instalou forte em SP e BA que decidiram prorrogar o pagamento do ICMS. Em SP, José Serra (PSDB) prorrogou o pagamento de 50% do ICMS referente a dezembro. Na Bahia de Jaques Wagner (PT) o governo anunciou que vai parcelar o ICMS em 04 vezes.

No RJ as montadoras e a CSN anunciam férias coletivas de 18 mil funcionários. As montadoras tais como, Volks, Peugeot, Citroën e as empresas CSN e Michelin, elevaram em 30% o número de funcionários em férias coletivas.

Os números do mercado automobilístico referentes a novembro, que devem ser divulgados no começo de dezembro, podem assustar até os mais pessimistas. As vendas no país apresentaram queda de aproximadamente 30% e devem fechar o mês com um total de 170 000 unidades emplacadas. Em outubro, que já apresentou desaceleração. A GM, que enfrenta a pior crise de sua história nos Estados Unidos, foi a montadora que mais perdeu mercado.

Para piorar o mercado divulgou-se também que há pouco mais de três meses as transportadoras rodoviárias faziam fila na porta das montadoras para aumentar sua frota e atender o mercado. A demanda era tão forte que algumas empresas de transporte chegavam a recusar clientes e escolher as cargas mais rentáveis. A crise mudou completamente esse quadro. Hoje, parte da capacidade instalada está ociosa, os planos de investimentos estão sendo revistos e já há pressão para reduzir o preço do frete.

Minas Gerais, estado que concentra cerca de 70% da produção nacional de gusa, foi o mais atingido pela retração do mercado ferro-gusa provocada principalmente pela queda na demanda internacional. Só em Sete Lagoas – município que concentra a maior produção de ferro-gusa da América Latina, com 22 empresas instaladas -, 2,3 mil trabalhadores foram demitidos, ou mais de 40% dos 5,5 mil empregados, diretos e indiretos, das fábricas. Na semana passada, o diretor da mineradora MMX afirmou que nada menos que 103 dos 161 fornos de ferro-gusa existentes no Brasil estavam parados.

Se foram notícias ruins para o país da “marolinha” do presidente Lula, imagina para o mundo. O relatório elaborado e distribuído entre os 375 maiores bancos de 70 países que integram o Instituto de Finanças Internacionais prevê queda de 3,5% no PIB dos EUA e de pelo menos 1,5% no crescimento de Europa e Japão no último trimestre deste ano. o relatório prevê que o Mundo terá o pior trimestre desde 80.

Setores em crise já afetam municípios mineiros

crisemineira

Marta Vieira para O Estado de Minas 

Redução da produção e do transporte, férias coletivas e demissões começam a mudar o dia-a-dia de cidades que dependem da indústria como âncora da economia nas regiões Central e Oeste de Minas Gerais. Nos bairros tipicamente operários de Interlagos e Luxemburgo, em Sete Lagoas, a 70 quilômetros de Belo Horizonte, metalúrgicos dispensados por empresas de ferro-gusa (matéria-prima do aço) fazem bico na construção civil ou saem para trabalhar nas lavouras dos municípios vizinhos de Funilândia e Baldim. Placas afixadas às portas de transportadoras avisam que não há vagas para motoristas. Caminhões e carretas estacionados nos pátios são vistos também em Itaúna, distante 85 quilômetros da capital mineira, com a queda da movimentação de insumos e produtos dos setores siderúrgico e de mineração.

Demitido em novembro, num grupo de 180 trabalhadores da indústria do gusa, Arnaldo Garcia havia completado 17 anos de experiência no setor. Desde então, faz trabalhos sem vínculo empregatício como pedreiro para garantir o sustento de quatro filhos, mesma decisão tomada por amigos e colegas, alguns deles forçados a aceitar ofertas de trabalho em fazendas da região. “Já vivemos outras crises , mas esta está mais forte”, diz. Com base no ritmo de homologações de rescisões de contratos de trabalho no sindicato local dos metalúrgicos, o presidente da entidade, Ernane Geraldo Dias, estima em 2,2 mil os empregos cortados nos últimos dois meses em 20 empresas produtoras de gusa. Outros 3,2 mil trabalhadores do setor automotivo estarão em férias ou cumprindo folgas até meados de janeiro.

A situação difícil para as famílias dos metalúrgicos mostra os primeiros reflexos no comércio. As vendas com cartões de crédito recuaram no supermercado Varejão RR, instalado no Bairro Interlagos, indício de que o consumo estaria migrando para o pagamento à vista, avalia o gerente comercial, Edgar Júnior Silva. “Pode ser um sinal de cautela do consumidor para não se endividar”, afirma. A tendência é de que a empresa invista mais nas promoções de preços, diante de um faturamento ancorado em 40% de pagamentos à vista. “Nesta hora de dificuldades, mais que em qualquer outro momento, as pessoas vão buscar as ofertas”, diz Silva.

Há 40 anos no ramo do transporte de carga, a Empreendimentos Rodeiro registrou queda de 50% dos negócios no mês passado. O diretor-presidente da transportadora, Lincoln Lino da Costa, trabalha com a perspectiva de nova redução do faturamento em pelo menos mais 15%, com o encolhimento das atividades de grandes indústrias da mineração e da siderurgia que atende, a exemplo da Votorantim Metais e grupos ArcelorMittal e Gerdau. “Todos os clientes já pediram desconto de 10% nos preços do frete”, conta. Para Costa, as medidas de liberação de crédito adotadas pelo governo não surtiram efeito sobre o setor de transporte de carga. “O que precisamos é redução dos preços dos combustíveis, coerente com a queda das cotações do petróleo, e prazos com carência maior para o pagamento de empréstimos”, afirma. O setor de transporte foi colhido pela crise, depois de um período de seis meses marcados por investimentos.

Conforme recente levantamento divulgado pelo Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer), o ritmo da produção histórica das empresas, de 5 milhões de toneladas anuais, já diminuiu 40% e não há contratos negociados para janeiro a março. O setor, que se viu obrigado a abafar 70% de seus fornos no estado, trabalha, em média, com 90 dias de programação de pedidos. 
 
Foto: Nando Oliveira – Esp. EM – D. A Press

Para criminalistas a condenação de Dantas é exacerbada

Criminalistas consideraram “exacerbada” a sentença do juiz Fausto Martin De Sanctis. O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira diz que “foi correta” a decisão de permitir que Daniel Dantas recorra em liberdade, mas considerou “elevada” a pena de dez anos de prisão, multa de R$ 1,425 milhão e reparação de R$ 12 milhões.

Na sua opinião, Daniel Dantas não criou nenhum embaraço para o processo: “Não é um crime confirmado, mas uma tentativa de corrupção”, afirma Mariz de Oliveira.

Segundo o criminalista Tales Castelo Branco, a decisão foi “emocionalmente incendiária”. “À primeira vista, é uma sentença para chamar a atenção”, diz o advogado.

O advogado Adriano Salles Vanni afirma que “já esperava a pena tão exacerbada”. “Acredito piamente que essa decisão será reformada.” Ele diz que De Sanctis usou “agravantes genéricos”. “O juiz deve ter feito uma ginástica muito grande para aplicar uma reparação de R$ 12 milhões”, afirma Vanni.

O criminalista Romualdo Sanches Calvo Filho entende que a sentença “não surpreendeu”. Para ele, é normal que Dantas responda em liberdade.

Já congressistas integrantes da CPI dos Grampos comemoraram a condenação. O deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) disse que a justiça “tarda, mas não falha”, e ressaltou a importância da CPI que expôs as ações do banqueiro.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) acredita que a condenação não será anulada, havendo uma diminuição da pena. “O juiz calibrou uma pena alta para que [Dantas] não seja absolvido, mas a condenação tem que entrar para a história para mostrar que não há uma blindagem contra ninguém.” Assinante da Folha lê mais aqui.